Eu diria que a tradução dessa temática e conceito não é um processo simples - o limite entre o básico caro e o minimalismo luxuoso é muito sutil e em um mercado dominado por composições extravagantes e potentes criar perfumes diretos e de certa forma discretos pode afastar a alguns usuários. Ainda sim, o que é oferecido foca na utilização mais generosa de ingredientes naturais em estrutura relativamente simples para garantir o minimalismo luxuoso dos Haikus em formato de perfume.
Cricket Song ainda que não explicitamente é um ode ao aroma das flores no calor. O nome é uma referência ao fato de que é possível medir a temperatura e calor pelo tempo de propagação do som dos grilos e pelo que o poema deixa a entender o cenário olfativo proposto é o de um entardecer, com o aroma das magnólias se espalhando pelo ambiente. Esse minimalismo temático aliado a utilização de materiais naturais garante um acorde de magnólia complex, natural e bem delicado - suas nuances cítricas convivem em harmonia com o aspecto que remete à rosas e o lado meio lactônico e floral branco que sugere sutilmente jasmim. O perfume parece ter sido composto para segurar e ir dissipando aos poucos essas nuances de magnólia, com uma base que é em um primeiro momento amadeirada e úmida pela presença do vetiver e em um segundo momento se torna um sussurro floral envolto em musks brancos, como se o aroma das flores fosse se perdendo com o passar da noite. É um perfume bem simples mas bem harmônico em seu aroma de magnólia e um que tem grandes chances de agradar ao público feminino com sua sofisticada apresentação.